25.1.10

História para gente grande

Era uma vez, um passarinho amarelo que morava em uma casa feita de folhas de laranjeira, bem no meio do pombal. A diferença entre sua cor de Sol e o cinza-comum das pombas era tão grande quanto são grandes os desejos que – por irrealizáveis – moram no fundo do mar e, vida após vida, esperam que a luz do Sol seja tanta que as águas mudem de endereço e eles possam – por fim – tornarem-se doces realidades. De toda forma, o amarelo do passarinho era toda a vida que o cinza-comum fazia questão de ignorar entre dias monocromáticos. [Ah, malditos sejam os comuns que, por serem tantos, pensam que são na medida do que é grande e bom, fazendo do diferente a aberração. Triste selva de ervas daninhas, que de tão vazios, fazem o giraSSol crer que ser verde, muito e banal é o caminho para tornar-se grande e bom.] Acontece que o passarinho amarelo deixou-se levar pela vida monocromática do pombal e, numa tentativa ingênua de se tornar mais um, pediu ao dono do mundo que trocasse suas penas. Durante aqueles dias, o mundo do pombal viveu uma revolução de um só, porque o dono do mundo não entendia que o passarinho amarelo não conseguia ver o seu presente singular: a cor de suas asas, tão amarelas como o Sol e o giraSSol. O passarinho pedia que o dono do mundo trocasse cor tão desigual pela combinação do cinza-monocromático/vida-comum. Como o dono do mundo não recusa os pedidos dos bons corações, das almas livres e das crianças que gostam de doces – e ele bem sabe que a ingenuidade antecede o crescimento – ele pediu às melancólicas fumaças que se unissem às nuvens dos dias nublados e camuflassem o amarelo vivo do passarinho amarelo. E assim foi feito. (...) Quando o ex-passarinho amarelo encontrou a passarinha amarela ele já estava a esquecer a alegria do amarelo antes de ser envolto pela fumaça nublada. Foi por isso que ele não via o mais amarelo dos amarelos que nascia quando a passarinha fazia o amarelo encoberto do passarinho querer voltar a brilhar. E foi também por isso, que a passarinha pediu ao dono do mundo que por um tempo não tivesse mais tempo. E o depois parasse de existir. Ela sabia que aquela nuvem nublada de fumaça comum e monocromática logo iria se dissolver (Já contei que o dono do mundo não recusa certos pedidos). (...) E foi então que o RE-passarinho amarelo nunca mais se importou em ser único no pombal. Ele sabia que, em algum lugar do céu – um eterno céu em dia de sol – a passarinha seria companhia para as suas diferenças.