20.4.09

Macio

A cama vazia me abraça e eu consigo sentir as suas mãos. Mãos que me pedem, ainda que relutantes contra seus próprios desejos. O cheiro preso nos lençóis, no travesseiro e em mim traz o acalanto. Ameniza a falta. Do que fomos e do que poderia ser. Ele ainda está ali. Tudo diz que sim. Seus olhos, lençóis e travesseiro. Eu mesma. Tudo é sim, apenas a ponte que ele insiste em fincar entre nós na esperança de que eu não consiga a atravessar. Uma ponte de peças confusas e cordas falhas que, ele espera, me amedrontem. Não há medo. Quando alcanço seus olhos o medo se vai apressado e o que fica é o melhor de nós. O tempo é a mais malvada e benevolente peça da vida. Tira e traz, na medida em que amadurece e faz ver com novos olhos. Novos olhos eu tenho e vejo o que há de mim em você. De você em mim. E nas nossas diferenças contrastantes e complementares. A cama vazia é o meu porto seguro, enquanto você está fora. A sua imagem é quase palpável ali onde você deixar vagar seus sonhos mais profundos. Não há ponte e confusões. Você, apenas. Na inocência do sono. Você me abraça. Seu cheiro e o meu formam um novo. É bom. Uma mistura quase inseparável. A cama vazia me abraça e eu consigo sentir as suas mãos. Me sinto segura. E completa.