16.10.09

Amar é um verbo performativo?

O amor, como substantivo abstrato, está no meio do caminho entre ação e interior individual. Condição cuja base está nas formações sociais do humano, questionador inesgotável, que exige resposta e materialização a tudo. Insatisfeito interino que é. Banalizador do que é grande e, então, perdedor eterno no jogo do que está além da triste ignorância humana. O amor está, profunda e inteiramente, ligado ao interior do indivíduo, em gavetas que, por repetidas vezes, nem o próprio portador sabe abrir. No entanto, por condições irrefutáveis, o amor transparece sem que o indivíduo tenha consciência desse transparecer. O amor, e me refiro àquele além do plano das ações delimitadas pelo senso comum, onde complenitude adocicada e verbos de ações vazias são a materialização desse signo de ilimitada complexidade. Aqui me refiro às singelas elucidações da existência amorosa. Tão singelas que só se deixam perceber pelos olhos mais sensíveis às nuances das cores. Pelas mãos mais delicadas à percepção da casca do kiwi e dos poros das laranjas. Ou ainda, pela profundidade simplória das almas puras. É o tipo de amor que acontece em poucas partes da Terra, justamente pela falta aqui da evolução necessária para sabê-lo presente. – Eis que tamanho paradoxo: evolução que se atinge com as percepções mais sutis. Aquelas que nada mais exigem além de portas abertas – Por aqui, lugar a que chamaram (literalmente) Terra, a “ausência”, a ”falta de”, “aquilo que dói” são mais notáveis. E, nesse ponto do caminho, o amor já vai longe, esperando a evolução humana em algum ponto do (tão quanto) ilimitado universo. Quem sabe, pelo lugar a que chamaram (literalmente) nuvens.