21.6.09

Nuvens

O problema, em certos casos, é a arte de imaginar. Imagino o passado reformulado. Sinto uma vontade imensa de transformar a vida em um grande jogo de legos, que a gente monta e desmonta como quer. No castelo meu - que faço nosso - as paredes são de algodão doce e se movimentam conforme você faz ventar em meus pensamentos. As janelas mostram cenas, que crio e recrio conforme os dias de chuva e de sol. No reino do castelo é quase sempre primavera, e então as janelas mais parecem telas do cinema do amor eterno. Lá, só o seu cheiro e o meu, as vezes juntos - outras não - podem entrar. E então o castelo tem um aroma de batom de morango e pasta de dentes. Aqui - ou lá, depende do momento - nós encontramos o equilíbrio entre a exorbitância da nossa sensatez irritante e da nossa libertinagem intransigente. Desarmados estamos. Você me olha nos olhos e além deles. No castelo meu - que faço nosso - as peças todas tem a forma exata da felicidade. E eu já não quero voltar ao reino da realidade.
O que será da vontade que dá de repente de correr até o infinito, onde moram os momentos perdidos e arrastá-los do escuro calabouço do em vão? O que será da tristeza descabida, lágrimas sem medida e do sono em constante vulnerabilidade? O que será da distância impiedosa, da proximidade com a mesma falta de piedade e da confusão resultante de tamanho paradoxo?
O que será do amor, essa interrogação onipresente? O que será do desejo, essa constante traiçoeira? O que seremos de nós, esse fim sem começos? Esse novelo sem linhas e pontas?