Inclassificáveis: são a dor e ócio. O amor. A vontade e a ausência de. O céu. A coincidência. O escuro e o medo. A noite. A estrela cadente. O cheiro de casa de mãe. O colo de pai. O ciúme. A inveja. A doença. O ânimo descontrolado. O descontrole. O vício. A dependência. O casamento. A prisão. Inclassificáveis é todo o inconstante. Todo o incompreendido e o incompreensível. A imensidão. Deus e o diabo. Os santos, anjos e assombrações. São inclassificáveis todo o inexplicável. O todo que leva classificações vãs e superficiais. As classificações são inclassificáveis. A superficialidade é companheira do inclassificável. Os olhos vendados, o paladar insosso, a ignorância opcional, a mentira aceita, o mal contado são companheiros dos inclassificáveis. Com eles atam as mãos e desatam da mente o sólido. O excesso, a ousadia, a ausência de argumentos e a vontade de não tê-los, a alegria de verter lágrimas, o que foge às palavras, o que dispensa a razão, todo o que impede o pensar e o que o ignora: companheiros dos inclassificáveis. Com eles atam as mãos e desatam da mente a barreira. Inclassificáveis são exagerados. Pêndulos descontrolados, entre o bem e o mal, ainda que inconscientes de suas pendências. Inclassificáveis que são, desconhecem o bem, o mal e todo o inclassificável das classificações vãs, superficiais e necessárias apenas ao padronizado bom senso. Inclassificáveis são os desejos. O toque. O abraço que acalenta. A mão que tira a angustia. O olhar que angustia. O sim. O não. E, mais ainda, o talvez. São inclassificáveis os impulsos. Os acordes. O luar. A lua. Inclassificáveis são as memórias. O gosto e o desgosto. A opção. O orgasmo. O amor. A vontade e a ausência de. Inclassificáveis são a pitada de vida à vida. São o enigma que mantêm a procura acima de todo o encontro. São os responsáveis pelas memórias mais docemente amargas. Pelo intenso. Pelo sentido sem sentido. Inclassificáveis são os fragmentos mais vivos de cada vida. São pedaços de vida própria dentro da vida que nosso olhar inclassificável e nossos valores sem explicações lhes dão. Inclassificáveis somos. E são o todo que quisermos. Inclassificáveis são nossos maiores prazeres e mais ainda os desprazeres. Inclassificáveis são tais palavras, que insistem em classificar até mesmo os inclassificáveis.
