4.12.09

Cubo mágico

Olhava aquele indivíduo - parte avessa de si - questionando como haveria de existir tanta empatia em meio ao contraste. Ele era muito diferente do que ela imaginara para o momento de deixar abobar-se. A cor creme fazia medo em meio ao vermelho vivo, amarelo gritante e verde apaziguador que sempre coloriram seus dias. Ela, então, deixando escapar pela boca frouxa o pensamento afoito: - Eu te amo? A luz do abajur deixava claro aos gatos que faziam festa na rua que era mais uma noite que brincava de esconder o fim. Quantas mais teria de suportar, e por quê o fazia – eram pensamentos que sorriam sarcástica e constantemente para o seu sono interrompido. Ela continuava a questionar. Não sabia calar. Conformar-se. Admitir o fim que antecede todo começo e saciar sua fome em sonhos gélidos. Ele olhou para o teto, como se implorasse aos céus um último pingo de paciência com cobertura de diplomacia, assim, a frase sairia com menos azedume para seus lábios. Respirou fundo em busca do ar que, talvez, sobrava nos poros dos pés: - Eu te amo. Quando deixaram a estupidez, que dá vida ao ser humano, se apossar de toda indiferença, que insistiam em cultivar como arbustos ferozes em volta do peito, passaram a ter o brilho da felicidade partilhada nos olhos. Uma alegria cantante e envolta por aroma de chiclete de melancia anunciava que logo passariam pelos corredores os dois prisioneiros de entrega consentida. A frase vinha junto de cada passo, sem precisar ser dita em convencionalidades: - Eu te amo!